Morrer de amor e continuar vivendo.

Quem sabe se algum fã e assíduo leitor de sua obra poderia nos sugerir alguma solução. Respostas, porém, que somente o autor poderia nos dar. Então, visto a inutilidade de continuar tal raciocínio, comecei a pensar se eu já tive alguma experiência que poderia me expressar com as mesmas palavras. Será que eu já morri de amor? O que é morrer de amor?

A resposta foi sim.

Recordei de algumas experiências que fiz com o mestre de Nazaré. O encontro com o carpinteiro é sobre isso, morrer de amor. Essa experiência é algo difícil de traduzir em palavras, é uma força tão grande que nasce de dentro para fora e parece que esse amor precisar sair, transbordar ao ponto de rasgar sua pele.

Você até começa a chorar, mas as lágrimas que brotam são de alegria e da sensação de se sentir amado. Todas as dúvidas cessam, o medo se esvai e nada mais faz sentido fora desse amor. A morte se torna a menor das preocupações. Mas, depois, isso passa e a vida continua. Parece mesmo como morrer de amor e continuar vivendo.

Jesus crucificado

Isso me fez pensar na Santa Missa. Cristo todos os dias morre de amor (por nós) e continua vivendo. A expressão “Cristo morre por nós a cada Santa Missa”, muito usada pelos católicos, está errada teologicamente. Cristo foi oferecido por nós uma só vez, realidade expressa pela palavra grega: “ephapax”(Hb 9, 28). O sacrifício de Cristo foi perfeito, não seria necessário uma segunda vez. Foi um cordeiro imaculado e sem mancha que foi oferecido. Por isso não podemos dizer que Cristo morre de novo na Santa Missa. Mas, então, o que acontece durante a liturgia da Missa? A palavra mais correta é “atualização”, ou ainda melhor, “presentificação”, ou seja, atualizar o que acontece a dois mil anos atrás, tornar o passado presente. Durante a Santa Missa, nós saimos do tempo cronológico e somos transportados para estar diante do mesmo e único sacrifício de Cristo.

Na verdade, não somos nós que morremos, é Cristo que morre, e Ele, de fato, ressuscita, ou seja, continua vivendo. O que nós podemos fazer é nos unir, durante a Santa Missa, na sua paixão, morte e ressureição.

Cristo se entrega no altar da Igreja e do calvário “mais uma vez e ao mesmo tempo uma só vez e de uma vez por todas”, derrama seu sangue, mas “imolado já não morre e morto vive eternamente”.

Todos os dias podemos morrer de amor e continuar vivendo durante a Santa Missa, especialmente, no momento da comunhão, onde nos tornamos um só com Ele, Ele em nós e nós N’ele.

Santa Teresa dÁvila, de algumas formas expressou essa realidade em seu lindo poema: “Vivo sem viver em mim”:

Vivo sem viver em mim e tão alta vida espero, que morro por não morrer. Vivo já fora de mim, depois que morro de amor, porque vivo no Senhor, que me quis só para si. Meu coração lhe ofereci pondo nele este dizer: Que morro por não morrer”.

Este é o momento que você pode fazer essa experiência, receber o próprio corpo, sangue, alma e divindade de nosso Senhor, morrer de amor e continuar vivendo.Depois?

Depois, a vida continua!

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